Conversar é preciso

Nos anos 1960 e 1970, no Brasil, existia um grande preconceito quanto a ir ao psicólogo, afinal, era atitude tida como coisa de maluco. O mundo mudou, e, atualmente, é até chic dizer “estou fazendo terapia”. E os próprios crentes, que estavam entre os mais severos opositores dessa prática, aderiram à onda, e, hoje, fazem atendimentos psicológicos até dentro das igrejas. Respeito os psicólogos e reconheço que são profissionais necessários, todavia, penso que o que as pessoas estão sentindo falta mesmo é de conversar e de serem ouvidas. Isso mesmo! Acredito que as pessoas estão sentindo muita falta de amigos, de bate-papos, de gente pra conversar, carência essa que acaba por levá-las aos terapeutas.

No meu tempo de criança, me lembro que não existia falta de conversa entre as pessoas. Ao cair da tarde, os adultos se sentavam em frente às casas e ficavam horas e horas conversando, enquanto, nós, as crianças, brincávamos ali por perto. Naquele local, todos eram amigos e se ajudavam nas horas de dificuldades. Era o tempo em que se pegava emprestado uma xícara de açúcar, ou de pó de café, para pagar no final do mês. Era um tempo de comunhão, amizade verdadeira que não se dissolvia com facilidade. Naquela época, não tínhamos a quantidade de informações e notícias que temos hoje, a televisão era recém-chegada no Brasil e poucas pessoas podiam comprá-la. Mas o que sabíamos já rendia bons e demorados papos.

Nos dias de hoje, as pessoas são bem informadas, os recursos e os meios de comunicação são espetaculares, e as notícias locais e mundiais chegam a todos quase que instantaneamente. O celular com Internet não deixa mais ninguém desatualizado e no campo do relacionamento, nas redes sociais, algumas pessoas chegam a ter “um milhão de amigos” – como cantou Roberto Carlos. O problema é que essas amizades virtuais não passam nem perto da qualidade das conversas nas calçadas. Você sabe, uma amizade nas redes sociais pode começar e terminar com apenas um click – e a outra pessoa, às vezes, nem ficar sabendo que já não é mais amigo daquele que o bloqueou.

Vivemos a era em que estamos conectados com pessoas do mundo todo, mas desconectados daqueles que estão próximos. Não sem razão, o sociólogo Zygmunt Bauman afirma que vivemos numa sociedade líquida onde nada mais tem solidez e tudo é efêmero. Chego a pensar que já estamos vivendo o tempo que Jesus disse que chegaríamos, onde o amor se esfriaria de quase todos. Parece que já não existe mais prazer em coisas simples, tais como, apenas sentar e bater um papo ou contar, por exemplo, uma história para uma criança.

A história do povo de Israel nos dá um bom exemplo nessa área. Em Deuteronômio 6.4-7, Deus determina que pais têm por obrigação ensinar a seus filhos as leis e a história do seu povo. Enquanto eles fizeram isso, a vida seguiu em paz. Muitos anos depois, no tempo dos juízes, no entanto, levantou-se uma geração que não conhecia a Deus (Juízes 2.8-12). Era uma sociedade fraca, vulnerável e corrompida. O motivo? Os seus pais simplesmente não cumpriram o mandamento de contar aos filhos os grandes feitos do Senhor e as maravilhas que fez. As pessoas pararam de conversar e de contar as histórias sobre Deus para os seus filhos.

Infelizmente, essa falta de conversa tem atingido as famílias atuais. Há pouco diálogo entre os cônjuges, pais quase não conversam com os filhos, e filhos praticamente não falam com os pais. Enquanto isso, mães lotam reuniões de oração, clamando a Deus para que seus filhos adolescentes e jovens voltem para a igreja. E assim, as famílias vão se desintegrando.

Por isso, aconselho às famílias que voltem a obedecer à ordem do Senhor, trazendo de volta o bate-papo ao redor da mesa. Na hora da refeição em família, guardem os celulares e desliguem a TV. Estou certa que, se as famílias tomarem essa atitude, não precisaremos mais de tantas sessões de terapias, a fé e a alegria voltarão às casas, e teremos uma sociedade forte e que conhece a Deus de verdade. Pense nisso!

ISILDINHA MURADAS

Odontopediatra, pedagoga e palestrante

isildinhamuradas@gmail.com

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