Saúde Bucal

MANIFESTAÇÕES ORAIS E TRATAMENTO ODONTOLÓGICO DO PACIENTE PORTADOR DA SÍNDROME DE DOWN
Oral Manifestations And Odontological Treatment In Patients With Down Syndrome

A Síndrome de Down (SD) ou trissomia do cromossomo 21 foi descrita pela primeira vez por Jojn L. Down em 1886. Essa patologia é causada pela existência de três cromossomos 21 é considerada uma das anomalias mais comuns em nascidos vivos (SANTOS, 2003). A etiologia desta síndrome está associada ao número de cromossomos (ELIAS, 2007). Sabe-se que o número normal de cromossomos nas células do homem é 46 (22 pares de autossomos e 2 cromossomos sexuais).Os espermatozoides e os ovócitos empreendem meiose, na qual as células resultantes recebem apenas um membro de cada par. Assim, o espermatozoide e o óvulo não fertilizado contêm 22 cromossomos e um cromossomo x ou y.

A fertilização indica a restauração do número de cromossômico para 46 no novo ser criado (ELIAS & ELIAS, 1995). Ocasionalmente, podem ocorrer desarranjos durante estas manobras cromossômicas, levando a anormalidades de número, configuração ou tamanho. Dentre as características apresentadas pelos seus portadores, podem ser citadas: hipotonia, baixa estrutura, braquicefalia, fissuras das pálpebras, língua protrusa, mal-formações gastrointestinais e cardíacas, aumento marcante na incidência de leucemia, início precoce de doença de Alzheimer e alterações orais (MOORE, 2000).


Devido à existência de diversas alterações na cavidade bucal, torna-se relevante para o cirurgião-dentista conhecê-las e saber como proceder frente ao portador da SD e como orientar seus pais ou responsáveis em relação aos cuidados bucais para prevenção de quaisquer manifestações orais que a síndrome possa apresentar (FILHO, 1998). Cabe ressaltar que a estimulação precoce de hábitos de higiene oral é muito importante nos primeiros anos de vida, pois é o período de maior desenvolvimento do sistema nervoso central (MELLO et al., 1998).

Acredita-se que os portadores da SD apresentam uma pré-disposição maior ao desenvolvimento de doenças periodontais como gengivite e periodontite, justificada pela dificuldade de higienização oral e pela imunossupressão causada pela síndrome (MELLO et al., 1998). Torna-se de suma importância a atuação do cirurgião-dentista desde os primeiros anos de vida do portador da SD, contribuindo para manutenção da sua dentição, prevenção de doenças e, consequentemente, para melhor qualidade de vida deste paciente.

CÁRIE

Pacientes com SD apresentam baixa prevalência de cárie devido à erupção tardia dos dentes permanentes e decíduos, ao alto número de diastemas existentes e ausência congênita de elementos dentários (MARIANO et al., 1999). Além disso, alterações salivares (como índice elevado de ácido úrico e creatina e altas concentrações de sódio, potássio, cálcio, fósforo, cloro e bicarbonato, liberados pela glândula parótida) aliada às alterações do Ph, também pode estar entre as causas de redução da incidência de cáries (MARIANO et al., 1999).

GENGIVITE E PERIODONTITE

A doença periodontal grave é frequente em pacientes portadores de SD, mostrando-se com uma progressão mais rápida e mais extensa quando comparada aos pacientes não sindrômicos (ELIAS, 2007). Outras condições periodontais também encontradas em pacientes portadores de SD, são a gengivite, recessão gengival, as perdas ósseas horizontais e verticais, abcessos, lesões de furca e perdas dentárias precoce (ARAUJO, 2000). Os problemas periodontais podem ser prevenidos ou, pelo menos, amenizados com tratamento periodontal frequente e controle químico de placa. A correta higiene bucal contribui para manutenção da saúde periodontal, entretanto, nos portadores de SD, apenas presença de placa bacteriana não parece estar relacionada diretamente com a severidade da doença periodontal (SILVA et al., 2003). Anormalidades no mecanismo de defesa do hospedeiro como a deficiência na quimiotaxia de neutrófilos e fagocitose, alteração dos sistemas inflamatório e imune. Precariedade da higiene oral, quase sempre negligenciada ou limitada pela própria deficiência na coordenação motora, contribui para instalação da doença periodontal no paciente portador da SD, fazendo-se necessário um programa de medidas preventivas envolvendo e orientando os pais e responsáveis deste paciente (GARCIA et al., 2003).

LÍNGUA FISSURADA

A língua fissurada pode ser constante e caracteriza-se por números pequenos de sulcos e ranhuras na superfície dorsal, irradiando-se de um sulco central na língua, sendo uma patologia indolor, mais facilita o acúmulo de restos de alimentares e desenvolvimento de halitose (BERTHOLD et al., 2004).

MICROGNATIA

A micrognatia caracteriza-se por um maxilar pequeno e pode afetar a maxila ou mandíbula. Embora tenham sugerido como uma das causas o ato de ser respirador bucal, é mais provável que a micrognatia atue como um dos fatores predisponentes da respiração bucal por estar associada com alterações do desenvolvimento das estruturas nasais e nasofaringianas. Um fator importante da hipotonicidade dos músculos orbiculares dos lábios leva o paciente a produzir irritação e fissuras no canto dos lábios, devido ao excesso de saliva em região labial e acúmulo de microorganismo como Cândida albicans produzindo infecções oportunas, associadas com a não higiene local (GARCIA et al., 2003).

TAURODONTIA

O taurodontismo se apresenta como alteração de desenvolvimento, na qual o formato anatômico dentário encontra-se alterado, tendo se semelhança com dentes ‘de touro’ (tauro = touro, dontia = relacionado ao dente). Essas alterações podem ser encontradas clinicamente radiográficas, apresentando forma retangular nas câmeras e corpos pulpares. Várias hipóteses têm sido citadas, para justificar a causa da taurodontia, dentre elas, mutação resultante da deficiência odontoblástica durante a dentinogênese das raízes, entre outras (AMORIN, 2001).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portadores da síndrome possuem inúmeras alterações imunológicas estruturais e funcionais que, somadas ao controle inadequado da placa pela higienização bucal ineficaz decorrente das limitações motoras, favorecem o desenvolvimento da cárie, da gengivite e da periodontite. Por estas razões, os procedimentos de prevenção são extremamente necessários para esses pacientes. Além disso, a conscientização familiar é muito importante para ajudar a manter a saúde bucal nesses casos. O cirurgião-dentista deve conhecer as manifestações bucais que podem acometer os pacientes com a síndrome, para que possa realizar um tratamento adequado e específico, oferecendo qualidade de vida para esses pacientes.

DRA. JUÇARA LIMA

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