A importância do empreendedorismo feminino

Lembro-me de quando pequena, minha avó paterna contava inúmeras histórias de sua infância. De uma não consigo esquecer. Ela, uma descendente alemã, certa vez, com lágrimas nos olhos e misturando o arrastado português com alemão, nos narrou como eram as refeições em sua casa: sua mãe improvisava um mexido com o que encontrava na vazia despensa e na horta da família. Depois colocava o alimento em uma espécie de travessa, sentava os filhos à sua volta e na tentativa de que todos fossem alimentados igualmente, tratava um à um.
Fico imaginando a sua angústia ao ver os olhos famintos dos filhos e o esforço que fazia em saciá-los. Em um país estranho, longe de sua terra e distante de sua família, não temeu nada e junto com o marido desbravou e conquistou seu lugar.
Esta história, ocorrida na década de 1920, retrata a realidade de tantas mulheres guerreiras, batalhadoras, e, por vezes escondidas e até oprimidas em uma sociedade impetuosa e insensível. Suas trajetórias não foram relatadas em prosas e nem em versos, perderam-se no tempo. Diferente de seu legado que continua vivo e atravessa gerações.
É destas mulheres que pretendo discorrer.
Antes de pensar, falar e incentivar o empreendedorismo econômico é preciso retornar às origens e referenciar o empreendedorismo familiar, conduzido, em sua grande maioria por mulheres. Aquele que tem sua sustentação na valorização e formação de pessoas fortes e ao mesmo tempo sensíveis, produtoras e ao mesmo tempo cuidadoras, gente com garra e ao mesmo tempo com brilho que irradia a vida. São essas pessoas que fazem a diferença no mundo e que produzem para si e para os que estão à sua volta. Isto sim é resultado de empreendedorismo sério e justo.
Para o empreendedor, a realização o conduz a buscar objetivos desafiadores. Para este indivíduo, não é a recompensa financeira e o prestígio que o levam a fazer sempre melhor, e sim a satisfação em ver seus objetivos alcançados.Em seus estudos, o psicólogo David McClelland, mostrou que uma pessoa empreendedora é aquela que busca a realização e utiliza com certa frequência e certa intensidade, as características comportamentais empreendedoras.
A mulher tem demonstrado desde sempre, ser capaz de empreender econômica e socialmente. É no seio familiar, onde mostra ser mais forte, ativa e emocionalmente segura. Sua força está nos pequenos atos diários e na capacidade de escutar, compreender, colaborar e motivar as pessoas ao seu redor, em um mundo dinâmico e constante, adapta-se ao meio e segue firme, não importando-se com os obstáculos no caminho.
Em uma época onde o empoderamento feminino vem crescendo, vemos também muitas mulheres buscando seu espaço.
A família é o alicerce de uma sociedade mais justa e humana. Empreender é buscar realizações. Querer o melhor para si e para os seus. A experiência é transformadora na vida do ser humano. Tenho passado um bom tempo ao lado de mulheres tão sofridas e mesmo assim inspiradoras, corajosas, divertidas. Mulheres que conseguem transformar o pouco que possuem em muito. Escondem as dores em sorrisos aconchegantes, e vão levando a vida sem medo. Educar, cuidar e contribuir para o sustento familiar vem de uma capacidade gigantesca de enfrentar adversidades, manter foco, analisar e retornar ao ponto de partida e por diversas vezes, não ter reconhecimento desse grande potencial.
É papel do Estado e principalmente da Igreja de Cristo valorizar o potencial empreendedor destas mulheres que a vida deu tão pouca oportunidade. Mulheres que ainda encontram em sua vida dor e sofrimento e mesmo assim não desistem de seguir e aprender com o descaso e fortalecer as demais.
O empreendedorismo do fortalecimento humano,que busca o bem e o transmite de maneira igualitária, que transforma a vida de quem está por perto, que cuida, adverte e ensina e renova negócios, com novas possibilidades e é enaltecido pela sociedade, que não deve fechar os olhos para a base que sustenta esse negócio, a formação familiar incentivada por uma mulher.
Gidemara Kiefer
IEQ de Rio Fundo
Filha dos Pastores Daniel Kiefer e  Maria da Penha
Consultora e instrutora em empreendedorismo, gestão de negócios urbanos e rurais

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.